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Afinal, a tecnologia vai matar ou salvar o planeta?

A tecnologia também pode se apresentar como uma aliada para preservação ambiental

Dois séculos de desenvolvimento industrial desenfreado e consumismo exacerbado trouxeram impactos que poderão colocar em risco a existência do homem na Terra. Ambientalistas alertam que as mudanças climáticas e o crescimento da população global levarão a produção de alimentos e água ao limite. Produzimos muito mais lixo do que nossa capacidade de reciclar e, de acordo com um estudo, a poluição responde por 16% das mortes em todo mundo, 15 vezes mais do que a guerra e a violência.


As máquinas fabris permitiram a produção em larga escala de bens de consumo sem os quais ainda viveríamos no tempo das carroças, do lampião a gás e do sal para conservar alimentos. Mas todo este conforto trouxe consequências danosas bem conhecidas e alarmantes: recordes de temperaturas elevadas, degelo, aumento na emissão de poluentes, escassez de recursos naturais, desperdício, fome, sede, doenças.


Com razão, a revolução industrial é apontada como a grande vilã e principal responsável pelos impactos ambientais. O progresso tem seu preço. E ele é bem alto. Mas não é o avanço que destrói e sim a mentalidade de toda uma geração que só se preocupou em, sem qualquer critério, produzir, consumir e descartar.


Há bons motivos para sermos pessimistas e acendermos a luz vermelha frente às ameaças ambientais que nos colocaram nesta situação limítrofe. Mas também há boas razões para acreditarmos que nunca reunimos tantas condições favoráveis para deixarmos um legado mais sustentável aos nossos filhos.


A começar por eles mesmos. Os milleniums têm uma nova lógica de consumo e não se importam em compartilhar o sofá ou um carro. Preferem uma vida de experiências a uma vida de acumular riquezas que não irão desfrutar. Se mostram mais preocupados com o meio ambiente e dão preferência a empresas certificadas. São mais engajados com causas ecológicas e sabem que temos pouco tempo para garantir que não precisaremos todos fugir para estações planetárias para sobreviver (ainda que Elon Musk esteja planejando nos levar para fora da órbita terrestre com a SpaceX).


Outra razão para acreditarmos é, adivinhem, a própria tecnologia, mais especificamente a tecnologia ambiental em áreas como biotecnologia, biocombustíveis, energias alternativas e renováveis, tecnologias agrícolas e florestais. Em muitas delas, o Brasil, vale sublinhar, reúne condições únicas para criar e exportar inovações, especialmente por conta dos recursos naturais abundantes – sol, vento, commodities (soja, milho, cana) e sua inegável vocação para o agribusiness.


A associação de pesquisa e conhecimento científico com ferramentas tecnológicas desenvolvidas na última década, entre elas a inteligência artificial, drones, robótica, a Internet das Coisas, Big Data, GPS e cloud computing, trouxeram inovações que poderão nos ajudar a corrigir os erros cometidos pela industrialização insustentável. As gigantes do Vale do Silício embarcaram na economia verde. Elas sabem que é um bom negócio.


O Google anunciou recentemente que passará a utilizar somente energias solar e eólica para suprir seus data centers, alcançando uma capacidade de mais de 3 gigawatts. Em outubro passado, a Amazon inaugurou sua maior planta de energia eólica no Texas com mais de 100 turbinas e que irá adicionar 1 milhão MWh para rede existente, gerando uma capacidade de abastecer mais de 90 mil casas por ano.


Com uma estratégia centrada no desenvolvimento de tecnologias verdes e futurísticas, a Tesla lidera a corrida pela fabricação de carros elétricos e painéis solares. Depois do furacão Maria ter arrasado Porto Rico, a empresa de Musk prometeu, e entregou, reestabelecer a energia de serviços essenciais com seu sistema de energia solar. No Sul da Austrália, a empresa finalizou a construção de uma bateria gigante em menos de 100 dias para suprir os constantes blecautes da região.


No campo da energia renovável, a Toyota surpreendeu ao anunciar recentemente que pretende inaugurar uma planta energética na Califórnia que transforma o gás metano produzido pelas vacas em água, eletricidade e hidrogênio. Será a primeira do mundo a comercializar 100% de energia e hidrogênio renováveis e terá capacidade de produzir 2,35 MW de eletricidade e 1,2 tonelada de hidrogênio por dia.


As fazendas também já deixaram a agricultura mecanizada para trás e há uma grande safra de startups de agritech dedicadas à agricultura automatizada e conectada. Agentes biológicos fabricados em laboratório ajudam a combater as pragas e reduzir o uso de pesticidas. Com o uso de micro-organismos e plantas, a biotecnologia já ajuda também a despoluir águas de rios e mares e recuperar áreas degradadas.


A partir de sensores instalados na plantação e nas máquinas, os fazendeiros digitais usam plataformas integradas de inteligência artificial e Internet das Coisas para comandar as lavouras de olho em smartphones e tablets que trazem dados, como condições do clima, do solo e de todo processo, do plantio a colheita, essenciais para decidir quando e quanto irrigar, otimizar o uso de insumos e, ao final do dia, como produzir mais em menos espaço.


Nas cidades, a tecnologia também se apresenta como uma aliada para preservação ambiental. Há 3 anos, o Japão inaugurou Fujisawa, uma cidade totalmente inteligente planejada para consumir o mínimo necessário de recursos naturais e diminuir o uso de combustíveis fósseis. Todas as casas são equipadas com painéis solares no teto e a arquitetura privilegia a iluminação e a ventilação natural para economizar energia.


A China lançou em 2015 a “The Sponge City Initiatives” para estimular projetos que ajudem a absorver e reutilizar a água de enchentes. A cidade-esponja planejada Lingang, no distrito de Xangai, investe em plantações nos telhados e em pavimentos permeáveis que armazenam as águas das chuvas, medidas também já adotadas em Berlim.

Com os grandes acordos entre as Nações para diminuir ou zerar a emissão de carbono, como o Acordo de Paris, a construção de cidades inteligentes será crescente e há muitas oportunidades para empresas prontas a desenvolver tecnologias verdes em áreas como smart grids, energia solar, reuso de água, reciclagem de lixo, transporte urbano e trânsito.


Até aqui, o homem construiu o futuro como se não houvesse amanhã. Abraçar a revolução digital com consciência e usar as novas tecnologias para destruir ou salvar o planeta é uma decisão que está nas nossas mãos. É isso ou será somente mais um século perdido para realizarmos o sonho de viver em um planeta sustentável.


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